segunda-feira, janeiro 29, 2007

Entre o Sono e o Sonho..

Entre o sono e sonho..
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou!

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre—
Esse rio sem fim.

*Fernando Pessoa, 11-9-1933*

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Palavras..


'São como um cristal,
as palavras
Algumas.. um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas!

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam..
barcos ou beijos
as águas estremecem!

Desamparadas.. inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda!

Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim
cruéis, desfeitas.. nas suas conchas puras?'

*Eugénio de Andrade*

domingo, janeiro 21, 2007

(Vazios..)

Se caracterizasse as minhas palavras neste momento seriam tão escuras como a noite. Sim.. de uma noite fria e negra sem Luar!
Nestas horas mortas, nem o vento sopra e até mesmo as folhas secas no chão íbrido perderam a sua dança inconstante.. apenas um silêncio nú e frio ilumina a pele que me veste.

Alexandra.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O Sol nas noites.. e o Luar nos dias!

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto...
quanto mais tu me despes, mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo!
Por dentro me ilumino, sol oculto
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes... estou morta na quermesse
dos teus beijos... etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem!

*Natália Correia*